Testemunho de Vida
No dia de Todos os Santos, 6 de novembro de 2011(no Brasil),
nossa querida Ir Maria Rosalia foi ao encontro do seu Esposo dileto, voltando
para a Casa Paterna.
Como é tradição em nossa Congregação ,
recolhemos alguns dados de sua profícua vida.
O texto a seguir está dividido em duas partes. Na primeira,
aproveitamos o testemunho vocacional que a própria Ir. Rosalia escreveu a
pedido das irmãs, e foi publicado em um folheto vocacional no ano de 2002, com
pequenas abreviações, com sua aprovação. Aqui o intitulamos de “Pequena
autobiografia”. Na segunda parte, acrescentamos alguns dados relevantes de sua
vida e o chamamos de “Um dom de Deus para nós!”.
Teríamos muito a
escrever, mas esperamos que o essencial esteja neste texto e todos possam
conhecer um pouquinho mais o grande dom que foi a nossa saudosa Irmã para a
nossa Comunidade, a Congregação, a Santa Igreja e toda a humanidade.
A você que lê
estas páginas, pedimos não se esqueça de fazer uma prece em sufrágio de sua
alma.
Pequena autobiografia
Eu sou Irmã Maria Rosalia do Sagrado Lado de Jesus.
Meu pai chamava-se José Giacobe e mamãe, Catarina Defávare.
Nasci na cidade de Rio das pedras, no interior de São Paulo,
no dia 8 de agosto de 1924.
Fui batizada com apenas 8 dias de idade; crismada com 2
aninhos. Eu não tinha ainda 6 anos de idade, quando recebi pela primeira vez a
Eucaristia, isto porque na família havia Frades e Freiras, o que ajudou-me a
amar a Jesus desde pequenina.
Neste dia fiz o meu voto de virgindade e o coloquei nas mãos
de Nossa Senhora, para que ela me auxiliasse a guardá-lo intacto.
Aos 10 anos
de idade, perdi a minha querida mãe e com todo o amor possível cuidei dos meus
irmãos e irmãs pequeninos. Minha irmãzinha caçula faleceu nos meus braços 10
dias após minha mãe. Eu cuidei dos meus irmãos durante um ano, mas meus tios e
tias freiras resolveram levar-nos para um colégio. Os dois garotos foram
levados para o Seminário, onde o nosso tio frade, irmão de mamãe era Reitor.
Mas nenhum dos dois tornou-se padre.
Eu e minha
irmã fomos levadas para um colégio em Campinas, onde pudemos estudar e aprender
tanta coisa útil para a vida. O meu irmãozinho Inácio Paulino foi levado para a
casa da tia Maria, que tinha 12 filhos e hoje é irmão Marista, educador e
formador da juventude.
Papai ficou
sozinho e trabalhava na oficina, por conta própria, como carpinteiro
especializado. Nossos familiares sempre lhe diziam: Sr. José case-se!.. Será
melhor que ficar sozinho. E o papai depois de 8 anos de viúvo, casou-se com uma
excelente senhora portuguesa, modista, Adelaide. Mas, a felicidade durou apenas
11 meses, pois o nosso querido pai faleceu de enfarto fulminante, com apenas 43
anos de idade...
Mas, tudo
passou... Continuei estudando, fazendo os cursos de bordado, flores,
datilografia, música. E as Madres do colégio, observando que eu tinha
capacidade para a música, inscreveram-me num Conservatório, mas eu lhes disse: “Minhas
queridas Madres, não gastem dinheiro comigo, porque quero ser monja de Clausura”.
Que luta para as Madres deixarem-me sair de lá; foi um grande sofrimento para
elas e para mim... Mas graças ao bom Deus superei também isto.
Escrevi para o
meu tio frade capuchinho para que providenciasse um mosteiro para mim. Ele era
muito amigo de Frei Manuel, confessor das Madres Fundadoras do mosteiro
passionista no Brasil. Frei Manuel logo me respondeu uma carta muito carinhosa
que me dizia assim: “ Quero que você venha logo, as Madres me falaram que o
ninho está pronto”. Daí eu me apressei em arrumar os poucos bens que tinha e
pedi ao tio José, Irmão de minha madrasta para me acompanhar... Ele é o pai dos
meus 12 primos, filhos da irmã de minha mãe, a querida tia Maria.
Mas, acontece
que nos primeiros meses eu sofri muito, porque não entendia a língua (italiana)
das Madres fundadoras, e menos ainda a reza do Ofício Divino, em latim; eu não
entendia nada.
Ainda bem que o
Padre Passionista (que nos assistia), nos chamava de vez em quando para
conversar. Então eu lhe dizia: “Não quero mais ficar aqui... eu não entendo
nada o que as Madres fundadoras falam... não entendo nada do Ofício Divino, por
isso, eu vou embora”. E o Padre com toda a paciência dizia-me: “Você não vai
embora de jeito nenhum, devagar vai aprender o italiano, o latim e vai
sentir-se feliz”. Essa luta durou para mim quatro meses...
Depois de um
ano e dois meses de postulado e um ano de noviciado, todas nós, Irmã Crucifixa,
Irmã Ângela Tereza, Irmã Constância (minhas companheiras noviças) e eu, a
caçula da Comunidade, professamos os Santos Votos...
Depois de três
anos de formação, as Madres Fundadoras me admitiram à Profissão Perpétua. Oh!
Que alegria!!! Que júbilo!!!
Agora sou
esposa de Jesus para sempre... Esta maravilha aconteceu no ano de 1946.
No ano de 1971
celebrei minhas Bodas de Prata de Consagração Monacal e em 1996 as de Ouro...
Agora, já
estou com 76 anos de idade e 57 de Consagração Religiosa. Devo cada dia mais
amar o meu Esposo Jesus e agradecê-LO por tão grandiosas graças que me concedeu
por sua infinita misericórdia. Que Ele seja louvado e agradecido. Que a Mãe de
Jesus O agradeça por mim, pois quando a graça é tão grande e maravilhosa, Ela,
a Mãe de Jesus, fará o que me é impossível.
Agradeço a
Deus, à Virgem Maria e às Madres Fundadoras que já estão no Céu; agradeçam a
Deus por mim e intercedam por todas nós desta nossa querida Comunidade do
Mosteiro de Santa Gema, São Paulo, Brasil.
Um dom de
Deus para nós!
Irmã Rosalia tinha uma dose de ingenuidade a mais do que o
comum dos mortais; meiga, delicada e respeitosa, sem deixar de ser franca; era
agradável viver ao seu lado.
Foi sempre fiel à
sua vocação, fervorosa e pontual, pronta para servir e colaborar, com
simplicidade e generosidade, com muito amor, alegria e entusiasmo. Tocava
harmônio muito bem. Na Comunidade,
exerceu diversos ofícios. Foi Mestra das Educandas, antes do Vaticano II;
Superiora interina do Mosteiro de Palmas, PR, na sua fundação e no nosso
Mosteiro conselheira por muitos anos e uma ótima enfermeira. Eficiente nos
trabalhos aproveitava ao máximo o tempo: terminava prontamente as obrigações de
seu ofício, retirava-se à Cela onde, serena e ágil como uma fada, bordava
toalhas de Altar e alfaias como poucas pessoas. Desde 1976 até as proximidades
do ano 2000 de modo geral todo o trabalho de datilografia no Mosteiro era seu.
Ir. Rosalia
passou seus últimos 7 anos na cadeira de rodas. Isto se deu na mesma semana em
que fez o voto de imolação pelos sacerdotes. Sofreu fratura do fêmur, cuja
cirurgia ocasionou trombose que, com os agravantes mal de Parkinson e idade
avançada, impossibilitou nova intervenção cirúrgica, indispensável para sua recuperação.
Apesar disso sempre teve esperança de andar. A cadeira de rodas, porém, não a
impossibilitou de cumprir a observância, estando sempre presente nos atos
comuns, com o seu fervor, salmodiando com as irmãs, Fazendo ardorosas preces na
Liturgia das Horas. Igualmente na Santa Missa, participava com toda atenção,
piedade e fervor, respondendo as aclamações e cantando com entusiasmo. Passava
a maior parte do tempo livre no Coro ou na Cela, em oração ou leitura
espiritual.
Jamais se
deixou levar pelo desânimo, desta forma participava mais intimamente da Paixão
de Jesus e, unida aos seus méritos, ajudava na salvação das almas; pedia,
particularmente pela nossa amada Congregação – da qual nutria um amor
indescritível – e santificação de todos os sacerdotes.
Estava sempre
com o sorriso nos lábios; gostava de “cumprimentar” a Jesus Sacramentado com
uma salva de palmas e com as palavras “ Jesus estou aqui”... Com espírito de
fé, ao retirar-se do recreio à noite, pedia a bênção para a Madre e, por
humildade, nos dois últimos anos, a todas as irmãs que estavam na sala.
Há dois anos
foi operada da vesícula e diagnosticado câncer. Os médicos avisaram que não
havia o que fazer, nem cirurgia, nem radio ou químio... Suportou com muita
paciência e serenidade náuseas e outros incômodos, sem perder o bom humor.
Sua partida
foi serena e rápida. Participou da Santa Missa até o dia em que Jesus veio buscá-la,
data muito especial: Dia de Todos os Santos. Às 19:00hs começou a sentir falta
de ar e as irmãs enfermeiras notaram que sua partida era iminente. Uma delas
foi chamar as irmãs que estavam saudando os Anjos para iniciar o recreio. Todas
chegaram a tempo de vê-la partindo. A Madre iniciou o “Terço da Misericórdia”.
Enquanto todas rezavam, três irmãs a tomaram nos braços e levaram-na para o
carro onde outra irmã já a esperava para levá-la ao Pronto Socorro. No Pronto
Socorro, fizeram o eletro e outros exames, constatando que ela já tinha
retornado a Casa do Pai. Toda a Corte Celeste já a havia buscado para junto de
seu Esposo Divino.
Ir. Rosalia foi
velada na Capela do nosso Mosteiro. Seus familiares sempre estiveram presentes
no decorrer de toda a sua vida com um carinho muito especial não deixavam de
vir prestar-lhe a última homenagem e a acompanharam até o seu sepultamento.
Estava presente, entre outros dois de seus irmãos: Olavo e Ir. Paulino. Este
último, era o seu “xodó”, pelo fato de ser o caçula e ter-lhe feito às vezes de
mãe quando seus pais morreram e por ser um religioso: Irmão Marista.
Sua Família religiosa se fez presente na pessoa de seu
Superior e de um Confrade. A Missa Exequial foi presidida pelo seu Diretor
Espiritual que é também nosso Capelão, Pe. Carlos, e concelebrada pelo Pe.
Everaldo. Tivemos também nesse dia a presença confortadora de nosso Bispo Dom
Ercílio, alguns sacerdotes da Diocese e os amigos que conseguimos contatar.
Irmã Rosalia
deixou uma grande saudade. Sua memória e seu testemunho de vida é um estímulo
permanente em nossas vidas. Além de tudo, não podemos deixar de mencionar que
com ela encerra a primeira geração das Monjas Passionistas no Brasil.
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