Testemunho de Vida
No dia 12 de agosto de 2018, nossa querida Madre Angélica
completaria 106 anos. Aproveitamos esta data para recordá-la através do seu
testemunho vocacional.
Madre Maria Angélica do Preciosíssimo Sangue, CP
( Maria Cardi )
* 12 – 08 – 1912 Itri – Itália
10 – 09- 2003 S. Paulo – Brasil
“ Por um vivo sentimento de gratidão,
sinto-me impelida a manifestar o meu reconhecimento para com Deus e a minha
Congregação que me acolheu.
Sou italiana, residente no
Brasil desde 1936, com 89 anos de idade, mas com um entusiasmo juvenil, graças
à Deus. Desde pequena senti-me chamada à vida religiosa, mas infelizmente, na
idade de 14 anos, comecei a sentir atrativos para as coisas do mundo e abafei a
graça da vocação, até cheguei a aceitar uma proposta de matrimônio. Mas, Jesus
que na sua infinita misericórdia velava sobre mim e queria o meu coração só
para si, não permitiu que se efetuasse e agiu de um modo admirável.
Serviu-se de uma minha amiga de
infância, agora religiosa, que antes de entrar no Convento sabia da minha
vocação, mas, depois de feita religiosa não tínhamos correspondência epistolar.
Um belo dia, ela escreveu à sua mãe
perguntando-lhe por mim e dizia-lhe: “Maria que pense bem, porque ela não foi
feita para as coisas deste mundo!” E a sua mãe ao referir-me estas palavras, me
repetiu: “Pense bem, porque Ermínia ( a filha) falou assim!”.
Essas palavras das duas foram como uma
lançada ao meu coração, mas, foram palavras de vida e a vocação que até então
parecia apagada, germinou de novo, e mediante uma novena que fiz à Nossa
Senhora das Graças, senti tanta força e coragem de despedir o moço, deixar o
mundo e entrar na Congregação Passionista de Clausura Contemplativa, na qual,
me acho feliz. Eu tinha 21 anos de idade.
Agora vou contar brevemente porque me
acho no Brasil:
Passado um ano depois da minha
Profissão Temporânea, Jesus exigiu de mim um desapego total da minha Pátria, a
Itália e dos meus familiares. Os Superiores quiseram que eu e mais seis irmãs,
tomássemos parte de uma fundação no Brasil. Eu respondi que iria se fosse a
vontade de Deus. Eles me responderam assegurando-me que era, porque, antes de
escolher as religiosas para esse fim, tinham invocado o Espírito Santo. Então,
escrevi para os meus pais, notificando-lhes a minha próxima transferência. Tal
notícia, revolucionou a minha família. Por eu ser filha única com um só irmão,
minha mãe tinha um carinho especial por mim e por mim era correspondido; logo
que soube, pegou o trem e foi ao mosteiro para dissuadir-me. Toda angustiada
suplicava-me para não ir tão longe. Naquela hora lembrei-me que Deus está acima
dos pais e com a vontade de Deus não se discute; fiquei firme e sempre
repetindo-lhe: é vontade de Deus que eu vá. Ela tão piedosa me intimou a deixar
o Convento e voltar para a família! Nessas horas de grande prova, uma mãe
afetuosa fala o que lhe dita o coração, Jesus perdoa, e eu com o coração
retalhado de dor por vê-la sofrer tanto por minha causa, precisei ficar firme a
não ceder.
Oh! Santa vontade do meu Jesus!
Profundamente humilhada no meu nada, eu te adoro e agradeço, porque, quem
deu-me forças para dominar os ímpetos amorosos do meu coração para com minha querida
mãe? foste Tu, ó Jesus, porque na tua bondade nunca nos pedes coisas
impossíveis e estais sempre pronto com a tua graça para nos ajudar”...
Com o tempo, minha mãe acalmou-se,
conformou-se com a vontade de Deus e ficava tão feliz quando recebia minhas
cartas, com as notícias do meu querido Brasil, que amo e considero minha
segunda Pátria.
A minha história é um tanto original,
porém posso afirmar que nos contratempos e dificuldades de que é semeada a
vida, e que bem nos fazem participar da
Paixão de Cristo, nunca vacilei e nunca me arrependi de ter deixado o mundo
seguindo a vida religiosa e de ter vindo ao Brasil!
Se o mundo soubesse como o Senhor
recompensa a quem se lhe doa inteiramente! Como dizia o jovem Passionista São
Gabriel da Virgem Dolorosa: “ Os conventos ficariam cidades e as cidades
desertas...” É mesmo assim!”
Madre Maria Angélica do Preciosíssimo
Sangue
Concluamos sua
história:
No mosteiro foi sempre uma religiosa exemplar.
Com seu bom espírito, bondade, simplicidade e verdadeira caridade, tornou-se
uma das colunas fundamentais na edificação da Comunidade deste Mosteiro.
Contribuiu muito, quase sempre como Vigária, Conselheira e, sobretudo, como
Mestra de Noviças. Sua admirável lucidez e juventude do coração, permitiu que
aos 90 anos fosse ainda eleita 2ª Conselheira e continuasse integrando a Equipe
de formação, como também atuar até a morte como Organista e Compositora. Apesar
de seus achaques acompanhou sempre a Comunidade em todos os “Atos Comuns”, até
os seus últimos dias. Estando dispensada a alguns anos de levantar-se à 1:30hs.
da madrugada para as Matinas, fazia-o em todas as Solenidades e algumas festas,
tocando com entusiasmo o órgão. Era sempre uma das primeiras a chegar.
Madre Angélica com a Comunidade no Mosteiro na rua Lisboa |
Rezava todos os dias a Coroa de São Miguel Arcanjo por todas aquelas que tinham sido suas Formandas, tanto as que perseveraram como as que saíram. Rezava muito e pedia que se mandasse celebrar Missas pelas Almas do Purgatório. Seu amor apaixonado a Gesú, Seu Divino Esposo, era impressionante; sempre que falava dele, tinha lágrimas nos olhos. Todos os dias sentava-se diante do Tabernáculo e ali ficava por longo tempo. Às vezes, julgando-se só na Capela, cantava a Jesus, muito baixinho, para não quebrar o silêncio, cantos de amor, de ação de graças e adoração. Era sumamente agradecida; a Vontade de Deus, era o que buscava e ensinava a buscar. Seu lema era: “Sim, Pai!”.
Tinha um grande zelo pela glória e
serviço de Deus, pela Santa Igreja, pela salvação das almas; pela propagação da
Paixão de Jesus e das Dores de Nossa
Senhora; sua intercessão mais insistente era pelos agonizantes e pecadores,
pelas vocações e pelos sacerdotes. Seu amor ao Santo Padre e ao Bispo Diocesano
era de uma ternura encantadora. Alegrava-se e apoiava com entusiasmo e carinho
qualquer santa iniciativa, das Superioras, da Comunidade e das irmãs
individualmente. Foi para todas nós modelo de verdadeira Monja Passionista, foi
aqui na terra e continua sendo no Céu, a nossa “Matriarca”.
Interceda por nós,
Madre Angélica!