sexta-feira, 27 de novembro de 2015


Ultima sexta feira do ano litúrgico de 2015!
No calendário próprio da Congregação temos o Oficio Votivo VI - Jesus trespassado pela lança. Aproveitemos a segunda leitura do Ofício das leituras para nossa Memoria Passionis!

Do «Tratado sobre o Evangelho de São João», de Santo Agostinho, bispo
(Trat. 120, 2-3; CCL 36, 661-662)

O mistério do Lado de Cristo

   Os soldados vieram e quebraram as pernas ao primeiro, depois ao outro que tinha sido crucificado com Ele. Ao chegarem a Jesus, vendo-O já morto, não Lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados trespassou-Lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água.
   O evangelista serviu-se de uma palavra particularmente expressiva. Não disse «golpeou-o» ou «feriu-o», nem qualquer outra coisa parecida; mas disse trespassou-Lhe o lado, querendo, desta maneira, significar que foi aberta uma porta donde saíram os sacramentos da Igreja, sem os quais não se pode ter acesso àquela que é a verdadeira vida. O sangue foi derramado pela remissão dos pecados; a água oferece a bebida da salvação, sendo ao mesmo tempo bebida e banho regenerador. Nós podemos ver uma imagem alegórica deste mistério na porta que Noé abriu num dos lados da arca, através da qual puderam entrar os animais que sobreviveriam ao dilúvio e nos quais estava prefigurada a Igreja. A preanunciar este mistério, a primeira mulher foi formada de uma costela do homem que dormia, sendo por isso chamada vida e mãe dos viventes. Com efeito, ela foi a imagem de um grande bem, antes de se tornar a imagem do grande mal, da prevaricação. Aqui, vemos que o segundo Adão, reclinando a cabeça, adormeceu na cruz, para que, a partir daí, a sua Esposa fosse formada com o sangue e a água que brotaram do seu lado depois de ter adormecido. Oh morte, que se transforma no princípio da ressurreição dos mortos! Que há de mais puro que este sangue? Que coisa se pode imaginar de mais salutar que esta ferida?
   E o evangelista prossegue: Aquele que viu é que dá testemunho e o seu testemunho é verdadeiro. Ele sabe que diz a verdade, para que também vós acrediteis. Não diz «para que vós o saibais», mas «para que também vós acrediteis». Com efeito, só sabe quem vê; quem não vê crê no testemunho de quem viu. É mais próprio da fé o crer do que o ver. De facto, o que é crer, senão ter fé?
E continua o evangelista: «Assim aconteceu para se cumprir a Escritura que diz: ‘Nenhum osso Lhe será quebrado’. Diz ainda outra passagem da Escritura: ‘Hão-de olhar para Aquele que trespassaram’». João apresenta dois testemunhos da Escritura para confirmar a verdade dos factos por ele narrados. Com efeito, quando diz que ao chegarem a Jesus, vendo-O já morto, não Lhe quebraram as pernas, a sua afirmação encontra confirmação na profecia que diz: Nenhum osso Lhe será quebrado. Era isso precisamente que mandava a antiga lei aos que celebravam a Páscoa, imolando um cordeiro, imagem alegórica do sacrifício do Senhor. É por isso que o Apóstolo diz «Cristo, o nosso Cordeiro pascal, foi imolado», a respeito do qual dissera Isaías: Como cordeiro levado ao matadouro…Da mesma forma, quando o evangelista afirma que um dos soldados Lhe trespassou o lado com uma lança, encontra confirmação na outra profecia: Hão-de olhar para Aquele que trespassaram; profecia que anuncia a segunda vinda de Cristo ao mundo na mesma carne com que foi crucificado.


Oração

   Senhor Jesus Cristo, que elevado na cruz, vítima de amor, quisestes que o vosso lado fosse trespassado com uma lança, atraí-nos ao vosso Coração aberto e misericordioso, para que, purificados pelo sangue e pela água que d’Ele brotaram, cresçamos cada vez mais no vosso amor. Vós que sois Deus com o Pai na unidade do Espírito Santo.