É com muita alegria que retomamos nossas postagens, no dia dedicado, na Congregação Passionista, a MÃE DA SANTA ESPERANÇA (09 de julho), que na Igreja do Brasil celebramos Santa Madre Paulina. Na Liturgia da Santa Missa, ontem, que celebramos a memória da Mãe da Santa Esperança, tivemos a graça de uma bela e profunda homilia do nosso tão caro Padre Othoniel Berilo Duprat, graças a sua gentileza, podemos partilhá-la com todos! Que a Mãe de Deus e Mãe da Santa Esperança nos alcance a santa perseverança!!!
HOMILIA DA FESTA DE NOSSA SENHORA MAE DA ESPERANÇA
A Mãe que ensina a confiar
Conta-nos São Lucas, no Evangelho, que no dia da Visitação, Santa Isabel, movida pelo Espírito Santo, louvou Nossa Senhora com estas palavras: Feliz a que acreditou, porque se cumprirão todas as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor (Lc 1,45). Maria acreditou e, do solo fecundo da sua fé, brotou a esperança como uma planta viçosa, como uma fonte cristalina, como um diamante único, indestrutível. Por isso a Igreja a chama Mãe da Santa Esperança, e por isso nós a invocamos como Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa ... Não são apenas belas palavras. Têm um conteúdo profundo. Descrevem a missão que Jesus lhe confiou em relação aos seus irmãos - a nós, que somos todos irmãos de Jesus (cf. Rm 8,29) e filhos de Maria (Jo 19,26).
Quando Jesus nos deu Maria como Mãe, no momento solene da agonia na Cruz, quis garantir-nos a esperança. É verdade que a nossa esperança deve estar, toda ela, colocada em Deus. Deus, e só Deus, é o motivo e a fonte radical da esperança. Mas Ele deu-nos uma Mãe - a sua Mãe - para que, com o calor de seu coração, nos ensinasse a confiar; para que estendesse a mão a estas pobres crianças suas que somos nós, para que as guiasse e as introduzisse no mundo maravilhoso da esperança.
Uma das orações mais antigas dirigidas a Nossa Senhora é aquela que ainda hoje os católicos piedosos sabem de cor: '"À vossa proteção nos recorremos, Santa Mãe de Deus, não desprezeis as súplicas que em nossas necessidades vos dirigimos, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita. Rogai por nós, santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos das promessas de Cristo". É uma expressão da confiança filial em Maria que nos encaminha para a esperança plena em Deus.
Na verdade, o Espírito Santo - inspirador da Sagrada Escritura - deixou-nos motivos mais do que suficientes para que aprendêssemos a confiar na "Esperança nossa". Bastaria lembrar a cena das bodas de Caná (Jo 2,1-11), onde a petição de Maria - suave, discreta, sussurrada ao ouvido - obteve de Jesus o seu primeiro milagre, a transformação da água em vinho.
Naquela festa de bodas, começou a faltar o vinho. Maria teve pena dos noivos. Aquilo podia estragar a alegria singela do banquete. Então falou com seu Filho: Não têm vinho! A resposta de Jesus pôde parecer um balde de água fria - Mulher, isto nos compete a nós? A minha hora ainda não chegou - , mas Maria não achou que fosse assim, e com toda a paz disse aos serventes: Fazei tudo o que ele vos disser... ; e não precisou de fazer mais. Jesus mandou, na hora, encher de água umas grandes talhas que lá estavam e depois indicou que fosse servido o seu conteúdo aos convidados: foi o melhor vinho da festa!
Maria adiantou assim, misteriosamente, a hora dos milagres de Jesus. E graças a esse primeiro milagre, obtido pela intercessão da Virgem, o Evangelho diz que Jesus manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele. Tudo, pela solicitude de Maria, pela ternura do seu coração. Se Jesus fez isso, a pedido de Maria, o que não fará por nós? É como se Ele próprio nos estivesse dizendo: "Vocês vêem? Confiem na Mãe! Eu a ouvirei sempre! Ela conseguirá tudo de mim!"
A Mãe de misericórdia
É por isso que os santos e os bons teólogos a chamam a "onipotência suplicante", uma maneira hiperbólica - mas realista - de referir-se ao poder das súplicas de Maria diante de Jesus. São Bernardo, o "trovador da Virgem", gostava de compará-la ao aqueduto que recebe a água da fonte (a água da graça, da fonte que é Deus) e a faz chegar a nós, da mesma maneira que um aqueduto recolhia então a água das montanhas e a conduzia até os povoados. E assim dizia: "Recebendo a plenitude (da graça) da própria fonte do coração do Pai, no-la torna acessível... Com o mais íntimo, pois, da nossa alma, com todos os afetos do nosso coração e com todos os sentimentos e desejos da nossa vontade, veneremos Maria, porque esta é a vontade daquele Senhor que quis que tudo recebêssemos por Maria" .
Que confiança, que consolo isto nos dá! Não é verdade que, às vezes, o que mais nos custa é esperar na misericórdia divina, porque vemos que não a merecemos, e que Deus, sendo justo, deveria castigar-nos, especialmente depois de tantos arrependimentos efêmeros, de tantas reincidências meio cínicas? E, no entanto, nem no pior dos casos devemos desesperar da misericórdia de Deus, mesmo que nos sintamos afundados - como o filho pródigo - na mais espessa, suja e viscosa lama do pecado. Nessa triste situação, ninguém como Maria para ajudar-nos a confiar na misericórdia de Deus. Ela é Mãe. Não tenhamos medo,· por mais: sujos e machucados que estejamos. Ela não deixará de propiciar um bom banho aos seus meninos. Ela nos moverá a ter arrependimento, ela nos levará - se for preciso, pela orelha - até à confissão, e nos carregará finalmente no colo, limpos e felizes.
"Se eu fosse leproso - escrevia São Josemaría Escrivã -, minha mãe me abraçaria. Sem medo nem repugnância alguma, beijar-me-ia as chagas; Pois bem, e a Virgem Santíssima? Ao sentir que temos lepra, que estamos chagados, temos de gritar: Mãe! E a proteção de nossa Mãe é como um beijo nas feridas, que nos obtém a cura".