sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Cada Comunidade uma nova Vocação!

Testemunho de Vida


Irmã Maria Rosa de São Gabriel, CP

Irmã Maria Rosa de São Gabriel (Augusta Rodrigues), filha de Avelino Rodrigues e Roza Bufani, nasceu em Botucatu – SP a 16 de julho de 1915, dia de Nossa Senhora do Carmo, pela qual nutria terna devoção.
Recebeu o Batismo no dia 12 de agosto de 1915 na Catedral de Botucatu, onde foi também Crismada em 1918, com três anos de idade.
Foi uma jovem de grande piedade e comprometida com sua Comunidade Paroquial. Era membro da Ordem Terceira de São Francisco, Filha de Maria, Guarda de Honra do Santíssimo Sacramento, São José, Apostolado da Oração e Obra das Vocações.
Trabalhou como doméstica numa família muito querida, colaborando sobretudo na educação das crianças a qual deixou apenas para entrar no Mosteiro. Recebeu, no decorrer de toda a sua vida, mostras de muito carinho e amizade dessa família, sobretudo do Sr. Gastão, que sempre ligava para ela em ocasiões especiais, como seu aniversário e onomástico; estando também presente no dia de suas exéquias, acompanhou o seu féretro até ao cemitério, onde deu um belo testemunho de toda sua estima e gratidão, sobretudo atribuindo o desabrochar de sua vida cristã ao seu exemplo e maternidade espiritual.
Dedicava um amor todo especial para com os seus familiares. Sempre que eles vinham visitá-la ou ligavam, expressava-lhes muito carinho, tinha-os sempre presente em suas orações e falava deles à Comunidade com grande afeto e admiração, relembrando a piedade e virtude deles.
Entrou para o Mosteiro Passionista no ano de 1952, após fazer um “Retiro de Carnaval” no Mosteiro, com mais de sessenta jovens e senhoras, conforme o costume da época. Desse modo, foi a primeira vocação do Mosteiro Santa Gema que, naquele tempo, tinha se transferido de Botucatu para São Paulo, na Rua Lisboa, iniciando o Postulado no dia de São Gabriel da Virgem Dolorosa, 27 de fevereiro do mesmo ano.
No ano de 1953, no dia 03 de maio, deu início ao seu Noviciado, vestindo o Hábito da Paixão e recebendo o nome de Irmã Maria Rosa de São Gabriel. Maria, em honra da Mãe do Senhor e nossa; Rosa, em memória de sua mãe; e São Gabriel, para honrar seu santo irmão passionista e indicar seu projeto de vida – inspirando-se nesse querido missionário da Paixão, escolhendo-o como seu Patrono e Protetor.
No dia de seu aniversário, dia de Nossa Senhora do Carmo de 1954 professou os votos religiosos, na condição de Irmã Conversa. Três anos depois, no mesmo dia , em 1957, fez a Profissão Perpétua.
Com o Concilio Vaticano II, em 1964, abolida qualquer distinção entre irmãs conversas e coristas – concedendo-se a todas os mesmos direitos e deveres – Ir. Rosa, que tinha no seu coração esse espírito de humildade e serviço, pediu encarecidamente à comunidade para continuar realizando as atividades  que  antes  desempenhava,     além   de  rezar   as prescritas para as Irmãs Conversas no lugar da recitação da Liturgia das Horas. Nesse modo simples e humilde de ser, ela se sentia totalmente realizada, cumprindo sua missão de passionista, assemelhando-se ao seu Esposo Crucificado.
Dotada de extraordinária vitalidade, trabalhou com entusiasmo e dedicação na cozinha, lavanderia, galinheiro, horta, inclusive cortando lenha e na limpeza do mosteiro. Dedicava-se também na confecção de Agnus Dei, preparação de selos para as missões, relíquias do santos, etc.
 Em 1967 manifestou-se-lhe uma angina pectore, mas o seu coração teve que pulsar ao ritmo do entusiasmo do peito daquela que o trazia até maio de 2007 não obstante a “sentença de morte” que acompanhou o diagnóstico: “a qualquer momento ela pode cair morta no corredor”.
Viveu com extraordinário empenho a santa pobreza. Dedicou-se à oração e intercessão, sobretudo pela conversão dos pecadores, pelos agonizantes, santas almas do purgatório, os sacerdotes - pelos quais nutria um carinho especial - e pelas vocações. Recitava o Rosário sempre de joelhos, superando nisso as demais Irmãs. Fazia muitas vezes ao dia visita a Jesus Sacramentado e dedicava um amor especial ao Divino Pai Eterno. Tinha uma memória admirável, recordando-se das intenções de orações pedidas depois de transcorrido muito tempo, perguntando e interessando-se por essas pessoas.
Apesar da angina de peito, arritmia e após os 80 anos, freqüentes pneumonias e edema pulmonar, tinha uma disposição invejável, subindo na cadeira para tirar o pó dos móveis e adornar as imagens da Santíssima Virgem da Biblioteca, e até mesmo sentando-se no chão nas recreações, levantando-se ágil e graciosamente em tão avançada idade.  Até às vésperas de sua morte, com seus quase 92 anos, ainda limpava e regava o jardim, além de cultivar plantas em vasos para adornar as imagens do Sagrado Coração de Jesus, Nossa Senhora e São José.
O seu tempo de recreação, nos últimos anos, constava de dois grandes atos de caridade. A primeira parte ela permanecia com Irmã Rosalia, limitada à cadeira de rodas; a segunda, quando a irmã enfermeira levava Irmã Rosalia para repousar um pouco, Irmã Rosa, ia secar louças. Nunca se permitia descansar após o almoço, nem quando se sentia mal, se a irmã cozinheira ou a despenseira estivessem sobrecarregadas.
Das diversas internações que sofreu nos últimos anos, seu modo de ser e suas palavras eram de edificação para todos os que a ouviam. Mesmo estando doente, na enfermaria, sempre procurava consolar as outras pessoas internadas com ela. Para essas pessoas como para todas as que a assistiam, como médicos e equipe de enfermagem, buscava sobretudo, nesses momentos, propagar o amor de Deus por nós, manifestado na Paixão de Jesus, além de divulgar a devoção do Santo Rosário, pedindo sempre a superiora que comprasse terços, para distribuir às pessoas com quem tratava, inclusive no hospital, aconselhando-as a praticar essa terna devoção à nossa Mãe do Céu.
Tinha um espírito muito jovial que apesar de estar em estado grave, no pronto socorro da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, deixou estupefato um médico, por sorrir com gosto ao vê-lo  colocar o estetoscópio dentro do bolso da manga do seu hábito*, na tentativa de auscultar-lhe os pulmões, enquanto era removida para a UTI. Ele então lhe disse: “Irmã a senhora está indo para a UTI, nunca vi um paciente sorrir nessas condições!”
Preocupava-se muito com as irmãs que a acompanhavam nas diversas internações no hospital, pedindo a elas que sempre descansassem. À irmã que a assistia no dia de sua morte e tinha consigo uma flauta, pois precisava treinar para poder apresentar a lição à professora, disse: “Não precisa se incomodar comigo, toca flauta aí”.
Sua última internação ocorreu no período em que todo o Brasil rejubilava com a visita do Santo Padre, o Papa Bento XVI. E, nesta ocasião, ofereceu de uma forma toda especial, a sua vida, pelo bom êxito da visita do Santo Padre e dos trabalhos que iriam ser realizados em Aparecida por ocasião da 5ª Conferência Episcopal Latino Americana e Caribenha. Após uma forte crise de insuficiência respiratória, na noite anterior a sua morte, pediu com confiança: “Jesus, se o Senhor quiser que eu continue aqui, sofrendo convosco, pela salvação das almas, pela 5ª Conferência,  pelos sacerdotes, pelos que estão passando fome..., me uno à vossa Vontade..., mas Jesus, eu gostaria tanto de unir-me PERFEITAMENTE convosco glorioso!”.
Graças a Deus, nos últimos dias, mesmo estando internada, teve toda assistência espiritual necessária, recebendo inclusive a Unção dos Enfermos, a Confissão e a Sagrada Comunhão apesar de todas as dificuldades.
Foi agraciada por um dom todo especial, sendo que no dia 15 de maio, véspera de sua morte, apontou para um determinado local e dizendo à Superiora que a acompanhava, que Nossa Senhora estava ali sentada e o Menino Jesus com os braçinhos abertos com repetidos gestos de ir para o seu colo. Apesar da insuficiência respiratória, arritmia cardíaca, broncopneumonia e tireoideopatia, ela sorria e, nesses momentos, não parecia estar enferma. Isto aconteceu diversas vezes durante esse dia e no seguinte.
Na manhã do dia, em que Jesus veio buscá-la, a Irmã que a assistia falou-lhe que era dia de Santa Gema e, Ir. Rosa então exclamou: “Eu quero ir para o Céu hoje. Ah! Se Santa Gema me levasse...”. Também chegou a dizer a Irmã que a acompanhava: “Fale para as Irmãs que se alguém tiver alguma coisa contra mim, eu peço perdão”. Recebeu Jesus Sacramentado, nesse dia, somente por volta das 21:30h – 22:00h pelos irmãos da Toca de Assis. Após receber a Comunhão, pediu para a Irmã cantar-lhe um canto da Paixão. Esta cantou-lhe a jaculatória do nosso Santo Pai, São Paulo da Cruz: “Senhor eu vos agradeço...”. Depois, agradeceu muito os irmãos da Toca de Assis, conversou animadamente com eles e contou-lhes que também pertencia à Ordem Terceira Franciscana.
Sua elevação pelas músicas religiosas, não foi só demonstrado nesse dia, ao contrário, tendo sido internada na noite do dia 12 de maio, já na madrugada do outro dia, a Irmã que estava junto dela nessa noite, foi despertada pelo seu canto. Ao ser questionada sobre o motivo que cantava, Ir. Rosa disse-lhe “Hoje é dia 13 de maio, dia de Nossa Senhora de Fátima, e estou pedindo para ela vir me buscar. Quem canta, reza duas vezes. Assim Nossa Senhora me atenderá mais rápido”. Nessa ocasião ela estava cantando: “A treze de maio” E assim era nossa Ir. Rosa, que mesmo não cantando alto no dia-a-dia nas celebrações litúrgicas, por dizer não ter “boa voz” sempre elogiava as Irmãs que preparavam os cantos, sobretudo na Santa Missa.
Foi chamada as 23:30h para estar junto de seu Esposo Amado, no dia em que celebrávamos Santa Gema Galgani, nossa Padroeira – 16 de
Maio de 2007, numa quarta-feira, dia dedicado a São José, santo tão querido e estimado por Ir. Rosa, além de ser mês de Maio –  consagrado a Maria; embora na certidão de óbito esteja registrado à zero hora do dia 17 de maio.
Na celebração de suas exéquias, Pe. Clóvis – CP, na Homilia, aconselhou-nos a não só fazermos nossos pedidos aos nossos queridos santos passionistas, mas de uma forma especial, a Ir. Rosa, pois ela, que vivia nessa comunidade, conhecia nossas necessidades e teria todo empenho em ajudar, assim como ajudou em vida. Também Pe. Vagner, que a assistiu no dia anterior no Hospital de Cotia, onde faleceu,  estava presente na celebração, fez   questão   de   dar   seu   testemunho,   ele   que  havia presenciado de uma forma especial sua “visão” e estava muito edificado com o seu testemunho de vida.
São Paulo, na Carta aos Coríntios fala: “por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade – as três. Porém a maior delas é a caridade”. (ICor 13,13) E, é essa caridade, demonstrada no dia-a-dia de sua existência que Irmã Rosa exalou e deixou-nos o exemplo.
Após sua morte, mesmo com todo o sentimento de luto, a comunidade foi inundada por uma confortadora alegria espiritual, na certeza que ela já estava na companhia de seu Esposo Amado, conforme sempre esperou e tinha certeza que não seria decepcionada.

       “A Esperança não decepciona e castigado não será quem nele espera.” (Rm 5,5; Sl 33(34),23b)

Peçamos ao nosso Deus de Amor, que a acolha no seu Divino Coração e, que ela, junto de Nosso Senhor, interceda por todos nós que continuamos nossa peregrinação à Pátria celestial.