Testemunho de Vida
Irmã Maria Rosa de São Gabriel, CP
Irmã Maria
Rosa de São Gabriel (Augusta Rodrigues), filha de Avelino Rodrigues e Roza
Bufani, nasceu em Botucatu – SP a 16 de julho de 1915, dia de Nossa Senhora do
Carmo, pela qual nutria terna devoção.
Recebeu o
Batismo no dia 12 de agosto de 1915 na Catedral de Botucatu, onde foi também
Crismada em 1918, com três anos de idade.
Foi uma jovem
de grande piedade e comprometida com sua Comunidade Paroquial. Era membro da
Ordem Terceira de São Francisco, Filha de Maria, Guarda de Honra do Santíssimo
Sacramento, São José, Apostolado da Oração e Obra das Vocações.
Trabalhou como
doméstica numa família muito querida, colaborando sobretudo na educação das
crianças a qual deixou apenas para entrar no Mosteiro. Recebeu, no decorrer de
toda a sua vida, mostras de muito carinho e amizade dessa família, sobretudo do
Sr. Gastão, que sempre ligava para ela em ocasiões especiais, como seu
aniversário e onomástico; estando também presente no dia de suas exéquias,
acompanhou o seu féretro até ao cemitério, onde deu um belo testemunho de toda
sua estima e gratidão, sobretudo atribuindo o desabrochar de sua vida cristã ao
seu exemplo e maternidade espiritual.
Dedicava um
amor todo especial para com os seus familiares. Sempre que eles vinham
visitá-la ou ligavam, expressava-lhes muito carinho, tinha-os sempre presente
em suas orações e falava deles à Comunidade com grande afeto e admiração,
relembrando a piedade e virtude deles.
Entrou para o
Mosteiro Passionista no ano de 1952, após fazer um “Retiro de Carnaval” no
Mosteiro, com mais de sessenta jovens e senhoras, conforme o costume da época.
Desse modo, foi a primeira vocação do Mosteiro Santa Gema que, naquele tempo,
tinha se transferido de Botucatu para São Paulo, na Rua Lisboa, iniciando o
Postulado no dia de São Gabriel da Virgem Dolorosa, 27 de fevereiro do mesmo
ano.
No ano de
1953, no dia 03 de maio, deu início ao seu Noviciado, vestindo o Hábito da
Paixão e recebendo o nome de Irmã Maria Rosa de São Gabriel. Maria, em honra da
Mãe do Senhor e nossa; Rosa, em memória de sua mãe; e São Gabriel, para honrar
seu santo irmão passionista e indicar seu projeto de vida – inspirando-se nesse
querido missionário da Paixão, escolhendo-o como seu Patrono e Protetor.
No dia de seu
aniversário, dia de Nossa Senhora do Carmo de 1954 professou os votos
religiosos, na condição de Irmã Conversa. Três anos depois, no mesmo dia , em
1957, fez a Profissão Perpétua.
Com o Concilio Vaticano II, em 1964,
abolida qualquer distinção entre irmãs conversas e coristas – concedendo-se a
todas os mesmos direitos e deveres – Ir. Rosa, que tinha no seu coração esse
espírito de humildade e serviço, pediu encarecidamente à comunidade para
continuar realizando as atividades que antes desempenhava,
além de rezar as prescritas para as Irmãs Conversas no lugar
da recitação da Liturgia das Horas. Nesse modo simples e humilde de ser, ela se
sentia totalmente realizada, cumprindo sua missão de passionista,
assemelhando-se ao seu Esposo Crucificado.
Dotada de
extraordinária vitalidade, trabalhou com entusiasmo e dedicação na cozinha,
lavanderia, galinheiro, horta, inclusive cortando lenha e na limpeza do
mosteiro. Dedicava-se também na confecção de Agnus Dei, preparação de
selos para as missões, relíquias do santos, etc.
Em 1967 manifestou-se-lhe uma angina
pectore, mas o seu coração teve que pulsar ao ritmo do entusiasmo do peito
daquela que o trazia até maio de 2007 não obstante a “sentença de morte” que
acompanhou o diagnóstico: “a qualquer momento ela pode cair morta no corredor”.
Viveu com extraordinário
empenho a santa pobreza. Dedicou-se à oração e intercessão, sobretudo pela
conversão dos pecadores, pelos agonizantes, santas almas do purgatório, os
sacerdotes - pelos quais nutria um carinho especial - e pelas vocações. Recitava
o Rosário sempre de joelhos, superando nisso as demais Irmãs. Fazia muitas
vezes ao dia visita a Jesus Sacramentado e dedicava um amor especial ao Divino
Pai Eterno. Tinha uma memória admirável, recordando-se das intenções de orações
pedidas depois de transcorrido muito tempo, perguntando e interessando-se por
essas pessoas.
Apesar da
angina de peito, arritmia e após os 80 anos, freqüentes pneumonias e edema
pulmonar, tinha uma disposição invejável, subindo na cadeira para tirar o pó
dos móveis e adornar as imagens da Santíssima Virgem da Biblioteca, e até mesmo
sentando-se no chão nas recreações, levantando-se ágil e graciosamente em tão
avançada idade. Até às vésperas de sua
morte, com seus quase 92 anos, ainda limpava e regava o jardim, além de
cultivar plantas em vasos para adornar as imagens do Sagrado Coração de Jesus,
Nossa Senhora e São José.
O seu tempo de
recreação, nos últimos anos, constava de dois grandes atos de caridade. A
primeira parte ela permanecia com Irmã Rosalia, limitada à cadeira de rodas; a
segunda, quando a irmã enfermeira levava Irmã Rosalia para repousar um pouco,
Irmã Rosa, ia secar louças. Nunca se permitia descansar após o almoço, nem
quando se sentia mal, se a irmã cozinheira ou a despenseira estivessem
sobrecarregadas.
Das diversas
internações que sofreu nos últimos anos, seu modo de ser e suas palavras eram
de edificação para todos os que a ouviam. Mesmo estando doente, na enfermaria,
sempre procurava consolar as outras pessoas internadas com ela. Para essas
pessoas como para todas as que a assistiam, como médicos e equipe de
enfermagem, buscava sobretudo, nesses momentos, propagar o amor de Deus por
nós, manifestado na Paixão de Jesus, além de divulgar a devoção do Santo
Rosário, pedindo sempre a superiora que comprasse terços, para distribuir às
pessoas com quem tratava, inclusive no hospital, aconselhando-as a praticar
essa terna devoção à nossa Mãe do Céu.
Tinha um
espírito muito jovial que apesar de estar em estado grave, no pronto socorro da
Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, deixou estupefato um médico, por
sorrir com gosto ao vê-lo colocar o
estetoscópio dentro do bolso da manga do seu hábito*,
na tentativa de auscultar-lhe os pulmões, enquanto era removida para a UTI. Ele
então lhe disse: “Irmã a senhora está indo para a UTI, nunca vi um paciente
sorrir nessas condições!”
Preocupava-se
muito com as irmãs que a acompanhavam nas diversas internações no hospital,
pedindo a elas que sempre descansassem. À irmã que a assistia no dia de sua
morte e tinha consigo uma flauta, pois precisava treinar para poder apresentar
a lição à professora, disse: “Não precisa se incomodar comigo, toca flauta aí”.
Sua última
internação ocorreu no período em que todo o Brasil rejubilava com a visita do
Santo Padre, o Papa Bento XVI. E, nesta ocasião, ofereceu de uma forma toda
especial, a sua vida, pelo bom êxito da visita do Santo Padre e dos trabalhos
que iriam ser realizados em Aparecida por ocasião da 5ª Conferência Episcopal
Latino Americana e Caribenha. Após uma forte crise de insuficiência respiratória,
na noite anterior a sua morte, pediu com confiança: “Jesus, se o Senhor quiser que eu continue aqui, sofrendo
convosco, pela salvação das almas, pela 5ª Conferência, pelos sacerdotes, pelos que estão passando
fome..., me uno à vossa Vontade..., mas Jesus, eu gostaria tanto de unir-me
PERFEITAMENTE convosco glorioso!”.
Graças a Deus,
nos últimos dias, mesmo estando internada, teve toda assistência espiritual
necessária, recebendo inclusive a Unção dos Enfermos, a Confissão e a Sagrada
Comunhão apesar de todas as dificuldades.
Foi agraciada
por um dom todo especial, sendo que no dia 15 de maio, véspera de sua morte,
apontou para um determinado local e dizendo à Superiora que a acompanhava, que
Nossa Senhora estava ali sentada e o Menino Jesus com os braçinhos abertos com
repetidos gestos de ir para o seu colo. Apesar da insuficiência respiratória,
arritmia cardíaca, broncopneumonia e tireoideopatia, ela sorria e, nesses
momentos, não parecia estar enferma. Isto aconteceu diversas vezes durante esse
dia e no seguinte.
Na manhã do dia, em que Jesus veio buscá-la,
a Irmã que a assistia falou-lhe que era dia de Santa Gema e, Ir. Rosa então
exclamou: “Eu quero ir para o Céu hoje. Ah! Se Santa Gema me levasse...”. Também
chegou a dizer a Irmã que a acompanhava: “Fale para as Irmãs que se alguém
tiver alguma coisa contra mim, eu peço perdão”. Recebeu Jesus Sacramentado,
nesse dia, somente por volta das 21:30h – 22:00h pelos irmãos da Toca de Assis.
Após receber a Comunhão, pediu para a Irmã cantar-lhe um canto da Paixão. Esta
cantou-lhe a jaculatória do nosso Santo Pai, São Paulo da Cruz: “Senhor eu vos
agradeço...”. Depois, agradeceu muito os irmãos da Toca de Assis, conversou animadamente com eles e
contou-lhes que também pertencia à Ordem Terceira Franciscana.
Sua elevação
pelas músicas religiosas, não foi só demonstrado nesse dia, ao contrário, tendo
sido internada na noite do dia 12 de maio, já na madrugada do outro dia, a Irmã
que estava junto dela nessa noite, foi despertada pelo seu canto. Ao ser
questionada sobre o motivo que cantava, Ir. Rosa disse-lhe “Hoje é dia 13 de
maio, dia de Nossa Senhora de Fátima, e estou pedindo para ela vir me buscar.
Quem canta, reza duas vezes. Assim Nossa Senhora me atenderá mais rápido”.
Nessa ocasião ela estava cantando: “A treze de maio” E assim era nossa Ir.
Rosa, que mesmo não cantando alto no dia-a-dia nas celebrações litúrgicas, por
dizer não ter “boa voz” sempre elogiava as Irmãs que preparavam os cantos,
sobretudo na Santa Missa.
Foi chamada as
23:30h para estar junto de seu Esposo Amado, no dia em que celebrávamos Santa
Gema Galgani, nossa Padroeira – 16 de
Maio de 2007, numa quarta-feira, dia
dedicado a São José, santo tão querido e estimado por Ir. Rosa, além de ser mês
de Maio – consagrado a Maria; embora na
certidão de óbito esteja registrado à zero hora do dia 17 de maio.
Na celebração de suas exéquias, Pe.
Clóvis – CP, na Homilia, aconselhou-nos a não só fazermos nossos pedidos aos
nossos queridos santos passionistas, mas de uma forma especial, a Ir. Rosa,
pois ela, que vivia nessa comunidade, conhecia nossas necessidades e teria todo
empenho em ajudar, assim como ajudou em vida. Também Pe.
Vagner, que a assistiu no dia anterior no Hospital de Cotia, onde faleceu, estava presente na celebração, fez questão de dar
seu testemunho, ele que
havia presenciado de uma forma especial
sua “visão” e estava muito edificado com o seu testemunho de vida.
São Paulo, na
Carta aos Coríntios fala: “por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade –
as três. Porém a maior delas é a caridade”. (ICor 13,13) E, é essa caridade,
demonstrada no dia-a-dia de sua existência que Irmã Rosa exalou e deixou-nos o
exemplo.
Após sua
morte, mesmo com todo o sentimento de luto, a comunidade foi inundada por uma confortadora
alegria espiritual, na certeza que ela já estava na companhia de seu Esposo
Amado, conforme sempre esperou e tinha certeza que não seria decepcionada.
“A Esperança não decepciona e castigado
não será quem nele espera.” (Rm 5,5; Sl 33(34),23b)
Peçamos ao nosso Deus de Amor, que a
acolha no seu Divino Coração e, que ela, junto de Nosso Senhor, interceda por
todos nós que continuamos nossa peregrinação à Pátria celestial.