sexta-feira, 16 de junho de 2017

Memória Votiva da Condenação de Jesus


Das «Meditações sobre a Paixão», do Beato Domingos da Mãe de Deus, presbítero
(Tradução do manuscrito autógrafo francês, em AGCP, B. I. VIII, VI-16; II, 4, pp. 344-348).

Jesus é condenado à morte
perante o tribunal de Caifás

   Quando Caifás soube a notícia de que Jesus tinha sido preso, alegrou-se muito, preparando de imediato as coisas para o processo de condenação. O inocente Jesus é obrigado, deste modo, a comparecer como criminoso perante aquele juiz iníquo, que O interroga acerca dos seus discípulos e sobre a sua doutrina. Jesus nada disse sobre o comportamento dos seus discípulos, mas não quis calar-se com referência à sua doutrina, para que ninguém pensasse que, com o seu silêncio, entenderia retratar-Se. Por isso, Jesus lhe respondeu: Falei abertamente ao mundo. Sempre ensinei na sinagoga e no templo, onde todos os judeus se reúnem, e não disse nada em segredo. Porque Me interrogas? Pergunta aos que Me ouviram o que lhes disse: eles bem sabem aquilo de que lhes falei. Sábia resposta!
   Procuram então testemunhas falsas que O acusem, mas engana-se a maldade dos homens, porque, entre as várias testemunhas, não se encontraram duas que afirmassem a mesma coisa: Os seus depoimentos não eram concordes. Então Caifás recorre a outra estratégia, levantando-se e interrogando pessoalmente Jesus: Eu Te conjuro pelo Deus vivo, que nos declares se és Tu o Messias, o Filho de Deus. Que temeridade! Ó juiz iníquo, que queres que te responda Jesus? Que Ele negue ser Filho de Deus? Mas, se assim fizesse, dirias: «aqui está o impostor, porque noutras ocasiões declarou ser Filho de Deus». Queres que o confesse? Então o acusarias de blasfémia, porque se arrogou o título de Filho de Deus. Apesar de tudo, Jesus, por respeito ao nome de Deus, confessa abertamente a sua divindade, confirmando o testemunho da sua dupla missão: Tu o disseste. E Eu digo-vos: vereis o Filho do homem sentado à direita do Todo-poderoso, vindo sobre as nuvens do céu. Jesus fala da sua segunda vinda, para que ele tire proveito da primeira.
   Mas quem pode enternecer corações endurecidos pela maldade? O sumo sacerdote e seus subalternos, em vez de aproveitarem as palavras de Jesus, tapam os ouvidos e, rasgando as vestes, exclamam a uma só voz: Blasfemou! Que necessidade temos de mais testemunhas? Acabais de ouvir a blasfémia. Que vos parece?... É réu de morte!.
   Porque declarais Jesus réu de morte, ímpios juízes? Porque diz ser Filho de Deus? Mas, se Ele o é na realidade, porque há-de ser réu de morte, confessando a sua divindade? Ímpios! Na verdade vós sois aqueles criminosos de quem fala o Espírito Santo no livro da Sabedoria. A verdadeira causa da vossa indignação não é a confissão de Jesus, mas a sua vida inocente, totalmente diferente da vossa, tornando-se uma contínua reprovação da vossa maldade. Este é o único motivo do vosso ódio; e é isso também que leva tantos cristãos à maldade, porque perseguem as pessoas honestas e inocentes precisamente por causa da sua honestidade e da sua santidade.

   Alegrai-vos, portanto, meus irmãos, se tiverdes a sorte de ser perseguidos, pois é o próprio Jesus que o afirma: Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Mas acautelai-vos de perseguir os bons, de zombar deles, para não serdes contados também entre os inimigos de Jesus, aqueles que pronunciaram contra Ele a sentença da sua condenação à morte.


Extraído da Liturgia Próprio da Congregação Passionista