A Vida Contemplativa em prosa....
Estou só. Um grande silêncio.
As chamas da luz do Santíssimo queimam a minha frente.
Um foco de luz ilumina o Sacrário.
Na parede, atrás do Tabernáculo, uma imagem muito
significativa se delineia – uma Hóstia espargindo cinco raios, exatamente cinco
raios.
Como são expressivos os símbolos que se apresentam à
minha frente – tudo a partir da presença real de Jesus na Eucaristia. Sim, ele
é o centro onde tudo converge! Em cima do Sacrário temos uma relíquia muito preciosa - a do Sagrado Lenho da Cruz de Jesus...
De onde escrevo, a luz ilumina, mas ainda há sombras,
consigo ver a sombra de minha mão ao escrever... O importante porém é que Jesus
está aqui e Ele me ilumina, é a luz do meu dia, da minha vida.
Apesar da solidão e do silêncio que encontro em mim e
no ambiente que estou – a Capelinha – ao meu redor percebe-se uma agitação, um
barulho, uma correria. Ouve-se a rodovia, o barulho dos carros e, diante desta
realidade não há como ficar insensível.
São vidas, pessoas que estão nesta agitação, umas indo para o trabalho,
outras para o estudo ou ainda um compromisso...
Eu também estou no meu “compromisso”, no encontro
marcado com Jesus. Ele me espera todos os dias, está aqui, de braços abertos a
me acolher, deseja travar um colóquio amoroso comigo, quer me ouvir...
Diante de Jesus, sinto-me como esta chama que está a se
consumir diante dele, pois este é o sentido da minha consagração – consumir-me
por Ele, pelo Reino, pelos meus irmãos e irmãs – qual um novo Moisés que está
em cima do Monte com os braços erguidos enquanto Josué está na batalha. Dom e
tarefa. Um dom, um privilégio, pois Jesus mesmo que me chamou a estar aqui com
Ele, mas uma tarefa, uma missão pois meus irmãos estão na batalha da vida e
preciso manter os meus braços erguidos, é desta forma que compartilho com eles
suas vidas e com Jesus, sustento suas vidas.
Estou aqui diante de Deus qual esta chama ardente que
dia e noite se consome diante de sua presença Sacramental. Chama que também
precisa ser alimentada com o óleo da graça do Senhor, do seu Espírito, para que
possa continuar sua missão de se consumir no segredo, no escondimento, pelo
Reino. Quão importante e necessário é este encontro!
A medida que permaneço diante de Jesus e vou abrindo o
meu coração e intercedendo por todos, o dia vai clareando e este sinal é muito
significativo: revela um pouco do mistério de Deus, as trevas vão se dissipando
e tudo , aos poucos, em contato com Jesus vai se iluminando, reina a luz!
Ah se pudéssemos ver quantas centelhas de amor, de
graça, são irradiadas neste momento de oração, no meu coração, no coração de
toda a humanidade. Minha oração se torna fecunda, apostólica, missionária – atinge
a todos!
Cinco raios saem da Hóstia desenhada na parede. O
número cinco é muito significativo para uma passionista: faz recordar as cinco
Chagas de Jesus; ajuda-a mergulhar no
mistério de dor e amor da Paixão do Senhor; leva-a entoar um hino de louvor e
gratidão pelo dom da Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição de Deus que se
fez um de nós e veio morar conosco; recorda-a o quanto Jesus sofreu e continua
a sofrer no seu corpo místico – os irmãos. Cinco chagas que são necessárias
curar e a este unguento curativo uno a minha oração, a minha suplica de perdão,
de misericórdia, os pequenos sacrifícios que se me apresentam no dia-a-dia, a
vivência de nossas Santas Regras e Constituições, o jejum, a imolação contínua
unida ao Único Sacrifício que ocorre a cada momento nos diversos altares do
mundo – a Eucaristia, o sacrifico incruento de Jesus.
Jesus é o centro. O desenho da hóstia que está o fundo
me faz recordar o globo terrestre: circular ; Deus – que não tem começo nem fim, é eterno.
Os cinco raios – os cinco continentes, toda a humanidade com suas alegrias e
tristezas. Cinco raios que me recordam que não devo ficar fechada em mim
mesma... só assim cumprirei minha missão... fazendo-me em Jesus - e este Crucificado - uma com todos
os irmãos e irmãs...
Bate o relógio. Preciso ir... Jesus me chama... Agora
Ele quer me encontrar no meu trabalho diário e, ali, também estarei unida a
Ele, na contemplação, realizando meu ministério contemplativo-missionário.
"As Religiosas da Paixão, comunicando o mesmo carisma dos seus
irmãos passionistas, enquanto atuam de modo preeminente o aspecto contemplativo
do seu comum carisma, sentem-se participantes da mesma missão da Igreja e sustém
o apostolado dos seus irmão, a fim de que possam promover em todos os corações,
a verdadeira devoção à Paixão de Jesus, nossa verdadeira vida". RC 8