sexta-feira, 18 de setembro de 2015
Hoje, no calendário próprio da Congregação celebramos a memória votiva de São Paulo da Cruz, façamos nossa memória Passionis com a experiência do nosso Fundador. Texto extraído da segunda leitura do Ofício das Leituras:
Do «Diário Espiritual» de São Paulo da Cruz, presbítero
(pp. 65. 67-68. 75. 80, ed. Pisani, 1964; Tr. Esp. Pp. 105-106.110. 126-127. 135)
Experiências místicas do Santo Fundador
Na Sexta-Feira estive particularmente recolhido, sobretudo depois da sagrada comunhão, após a qual fiquei numa grande paz e serenidade de espírito, invadido por dulcíssimos afectos. Sentia um desejo extraordinário de pedir a Deus que apressasse a fundação desta Congregação na santa Igreja; tive uma grande experiência infusa sobre os sofrimentos do meu Jesus, e anelava de tal maneira estar tão unido a Ele, que desejava sentir os seus padecimentos e estar com Ele na Cruz.
Ao fazer o oferecimento das dores que sofreu o meu Jesus, senti-me comovido até às lágrimas, o mesmo me acontecendo ao rezar pelos meus mais próximos. Na sagrada comunhão estive particularmente recolhido, sobretudo na meditação dolorosa e amorosa dos padecimentos do meu Jesus. Eu não sei explicar esta grande graça que o meu bom Deus me concede durante este tempo, porque não posso.
Quando me ponho a meditar nos padecimentos do meu Jesus, às vezes, depois de ter considerado um ou dois, preciso de parar, porque a alma não consegue falar mais, parecendo derreter-se: fica assim como que enfraquecida, em elevadíssimo estado de serenidade, misturada com lágrimas, ao considerar os sofrimentos do seu Esposo, como que infundidas nela ou, melhor dizendo, imersa no coração e na dor do seu querido Esposo Jesus. Outras vezes, a alma toma conhecimento global de todos os sofrimentos juntos e, nessa altura, concentra-se totalmente em Deus, numa visão de amor e de dor ao mesmo tempo. Isto é muito difícil de explicar: parece-me sempre uma situação nova.
Conversava eu um dia com um dos meus irmãos muito fervoroso – eu nem sou digno de ser chamado seu irmão –, versando o tema dos sofrimentos espirituais que muitas vezes experimentamos; dizia-lhe eu que tenho mais medo de perder os sofrimentos do que alguém perder as suas riquezas. Tenho medo de perder os sofrimentos, mesmo quando sinto que o temor me aflige; mas não me aflige de maneira a fazer-me perder a paz interior, e, por isso, estou atento a não falar deles a quem não estou obrigado por dever de obediência. Procurarei, isso sim, animar quem sofre, fazendo-lhe ver como são suaves os sofrimentos; mas, pôr-me a contar-lhe o que eu sofro e as provações que o Senhor me envia, isso não.
Oxalá eu pudesse gritar de maneira a poder ser ouvido pelo mundo inteiro, proclamando a grande graça que Deus, pela sua bondade, concede quando nos permite sofrer, especialmente quando não encontramos qualquer conforto; é então que a alma se purifica, como o ouro no crisol, e se torna bela e leve para voar até ao Sumo Bem, isto é, até à sua transformação, sem se dar pela conta; carrega a cruz com Jesus sem se aperceber. Isto procede da quantidade e variedade dos sofrimentos que lhe causam um esquecimento geral, e, portanto, um esquecimento também dos próprios sofrimentos.
Na Quinta-Feira tive uma particular elevação de espírito, sobretudo durante a sagrada comunhão. Desejava morrer mártir naquelas terras onde se nega o adorabilíssimo mistério do Santíssimo Sacramento. Já há algum tempo que a infinita Bondade me concede este desejo, mas hoje senti-o de uma forma mais forte. Desejava a conversão dos hereges, sobretudo da Inglaterra e reinos vizinhos, e rezei particularmente por essa intenção durante a sagrada comunhão.
Tive também um especial conhecimento da infinita misericórdia de Deus, dando-me o sumo Bem a conhecer com que infinito amor castiga neste mundo, para que não se sofram os tormentos na eternidade. Porque a sua infinita Majestade conhece o lugar que a justiça divina tem preparado para o justíssimo e merecidíssimo castigo do pecado, por isso a sua infinita misericórdia se move à compaixão, enviando leves castigos e convidando os seus filhos pecadores a se emendarem, para que possam fugir ao castigo eterno e O possam servir.