Memória Votiva da Condenação de Jesus
Das «Meditações sobre a Paixão», do Beato
Domingos da Mãe de Deus, presbítero
(Tradução do manuscrito autógrafo francês, em AGCP,
B. I. VIII, VI-16; II, 4, pp. 344-348).
Jesus é condenado à morte
perante o tribunal de Caifás
Quando Caifás soube a notícia de que
Jesus tinha sido preso, alegrou-se muito, preparando de imediato as coisas para
o processo de condenação. O inocente Jesus é obrigado, deste modo, a comparecer
como criminoso perante aquele juiz iníquo, que O interroga acerca dos seus discípulos e sobre a sua doutrina. Jesus
nada disse sobre o comportamento dos seus discípulos, mas não quis calar-se com
referência à sua doutrina, para que ninguém pensasse que, com o seu silêncio,
entenderia retratar-Se. Por isso, Jesus lhe respondeu: Falei abertamente ao
mundo. Sempre ensinei na sinagoga e no templo, onde todos os judeus se reúnem, e não
disse nada em segredo. Porque Me interrogas? Pergunta aos que Me ouviram o que
lhes disse: eles bem sabem aquilo de que lhes falei. Sábia resposta!
Procuram então testemunhas
falsas que O acusem, mas engana-se a maldade dos homens, porque, entre as várias
testemunhas, não se encontraram duas que afirmassem a mesma coisa: Os seus
depoimentos não eram concordes. Então Caifás recorre a outra estratégia,
levantando-se e interrogando pessoalmente Jesus: Eu Te conjuro pelo Deus vivo,
que nos declares se és Tu o Messias, o Filho de Deus. Que temeridade! Ó juiz iníquo, que
queres que te responda Jesus? Que Ele negue ser Filho de Deus? Mas, se assim
fizesse, dirias: «aqui está o impostor, porque noutras ocasiões declarou ser Filho de Deus».
Queres que o confesse? Então o acusarias de blasfémia, porque se arrogou o título de Filho
de Deus. Apesar de tudo, Jesus, por respeito ao nome de Deus, confessa abertamente
a sua divindade, confirmando o testemunho da sua dupla missão: Tu o disseste. E
Eu digo-vos: vereis o Filho do homem sentado à direita do Todo-poderoso, vindo
sobre as nuvens do céu. Jesus fala da sua segunda vinda, para que ele tire proveito da
primeira.
Mas quem pode enternecer
corações endurecidos pela maldade? O sumo sacerdote e seus subalternos, em vez
de aproveitarem as palavras de Jesus, tapam os ouvidos e, rasgando as vestes,
exclamam a uma só voz: Blasfemou! Que necessidade temos de mais testemunhas? Acabais
de ouvir a blasfémia. Que vos parece?... É réu de morte!.
Porque declarais Jesus réu de morte, ímpios juízes? Porque
diz ser Filho de Deus? Mas, se Ele o é na realidade, porque há-de ser réu de morte, confessando a sua divindade? Ímpios! Na verdade vós sois
aqueles criminosos de quem fala o Espírito Santo no livro da Sabedoria. A verdadeira causa da vossa
indignação não é a confissão de Jesus, mas a sua vida inocente, totalmente diferente
da vossa, tornando-se uma contínua reprovação da vossa maldade. Este é o único motivo do vosso ódio; e é isso também que leva
tantos cristãos à maldade, porque perseguem as pessoas honestas e inocentes
precisamente por causa da sua honestidade e da sua santidade.
Alegrai-vos, portanto, meus
irmãos, se tiverdes a sorte de ser perseguidos, pois é o próprio Jesus que o afirma:
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos
Céus. Mas
acautelai-vos de perseguir os bons, de zombar deles, para não serdes contados
também entre os inimigos de Jesus, aqueles que pronunciaram contra Ele a
sentença da sua condenação à morte.
Extraído da Liturgia Próprio da Congregação Passionista